O perigo dos uniformes e veículos adesivados com o logotipo das empresas – (parte 2)

Na primeira parte deste artigo mostramos que o mau comportamento de alguns entregadores da FedEx, gravados em vídeos e postados na Internet, estavam destruindo a imagem da empresa.

Esse artigo é conteúdo de palestra e tinha por finalidade exatamente treinar, capacitar e motivar os empregados da linha de frente das empresas para evitar que eles, consciente ou inconscientemente, repetissem o mesmo erro. A repercussão foi muito além do que podíamos imaginar, o que nos permite supor que as empresas estão começando a se dar conta do perigo que pode representar para a sua imagem um eventual comportamento inadequado dos seus funcionários usando seus uniformes nas ruas ou dirigindo seus veículos adesivados com os logotipos das suas empresas.

Nesta mensagem vamos tentar demonstrar cientificamente porque essa preocupação faz sentido e porque, nos dias de hoje, uma ação corriqueira ou uma frase sem sentido pode repercutir mundialmente em questão de horas.

Já pudemos assistir a alguns eventos triviais que em poucos dias transformaram pessoas comuns em celebridades, heróis, covardes, algozes, etc. marcando para sempre as suas vidas.

O Capitão de Falco da Guarda costeira italiana teve sua conversa com o Capitão Schettino do navio Costa Concórdia gravada onde ele dava uma ordem: volte para o navio, saco! (vada a bordo, cazzo!).

Pronto, o “vada a bordo, cazzo” virou hit na web, ganhou até uma camiseta vendida por uma loja na Internet e virou símbolo de indignação na Itália.

Hoje, se o Capitão de Falco se candidatasse a Presidente da Itália, ganharia fácil. Em contrapartida, o Capitão Schettino virou símbolo da covardia e conquistou a repulsa coletiva. Em 24 horas essa simples frase mudou a vida desses dois personagens para sempre.

Eu não sei se o modelo Daniel estuprou a estudante Daniela no BBB, mas o fato virou caso de Polícia e a imagem dele ficou indelevelmente maculada.

E, o que falar da “Luiza que está no Canadá”? Em pouquíssimos dias essa adolescente estudante que não é atriz, cantora, ou autora de algum feito extraordinário, virou celebridade nacional.

Ao ser citada pelo seu pai em um despretensioso comercial imobiliário exibido na Paraíba. “Reuni toda a minha família, menos Luiza, que está no Canadá“, para que a coisa caísse nas graças dos internautas.

Segundo o portal TV Online, milhares de usuários, empresas como o Ponto Frio, Yázigi e Claro, o ex-jogador Ronaldo e até mesmo o twitter da Presidência da Republica entraram na onda desse que se tornou um dos memes mais comentados da web.

Em épocas passadas esses eventos ou passariam despercebidos ou não teriam como ter a repercussão que tiveram.

Indignado e sem entender o porquê dessas repercussões absurdas sobre eventos tão triviais, o apresentador do Jornal do SBT, Carlos Nascimento, iniciou no telejornal que apresentava, afirmando que “ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos ou nós nos tornamos perfeitos idiotas“.

Nem uma coisa, nem outra. Ninguém e nem nenhum país terão algum dia todos os seus problemas resolvidos porque as necessidades humanas são ilimitadas. E, nem os brasileiros e nem os outros jovens do resto do mundo se tornaram idiotas.

O que talvez o Carlos Nascimento não tenha levado em consideração é que as pessoas de todas as culturas do mundo têm necessidade de se comunicar para exprimir os seus sentimentos e os seus anseios.

Aliás, não são só as pessoas. Todos os animais que vivem em grupos têm necessidade de se comunicar. As pessoas que vivem no campo acordam com o canto dos pássaros e com o rugido dos outros animais e eles passam o dia inteiro emitindo sons para se comunicarem entre si.

Em um dia comum, um adulto chega a pronunciar umas 40.000 palavras. São cerca de cinco horas de discurso contínuo.

E a que se referem todas essas palavras? Aos assuntos importantes do dia? Às novas ideias? Aos novos projetos? Às novas estratégias? Às questões filosóficas?

Pouquíssimas delas. Esses temas são restritivos e ocupam, quando ocupam, uma ínfima parte do nosso tempo. Grande parte do que falamos com as demais pessoas é trivial. É sobre coisas e pessoas.

Aliás, por acaso o telejornal do SBT apresentado pelo Carlos Nascimento fala do quê? De filosofia? De ideias? Fala exatamente sobre assuntos triviais que é o que interessa ao grande público.

A necessidade de falar torna o processo mais importante que o próprio conteúdo. Falamos sobre as coisas que vimos, ouvimos ou fizemos, sobre a família, sobre os amigos, sobre o tempo, sobre as últimas notícias, sobre os boatos, sobre as fofocas, sobre os fuxicos do dia, etc.

Por seu turno, a fofoca não é coisa recente. Ela tem estado presente ao longo de toda história da humanidade.

O historiador Bernard Capp, da Universidade de Warwick no Reino Unido, afirma que “a rainha Elizabeth I da Inglaterra, por exemplo, foi alvo de intensas fofocas entre 1560 e 1570, do tipo: Ela tem um caso? Está grávida? Teve um filho ilegítimo? E, por aí afora.” Segundo ele, boatos assim eram muito comuns entre os ingleses.

E, durma com um barulho desses: o Social Issues Research Centre de Londres constatou em seus estudos e pesquisas sobre a fofoca, que embora ela seja associada a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais fofoqueiros que as mulheres… Os pesquisadores dizem que as mulheres fofocam para passar o tempo e os homens, para se autoafirmar…

É devido a essa necessidade de falar, falar e falar (seja lá do que for), que diariamente, bilhões de pessoas ao redor do mundo se relacionam através das centenas de sites de relacionamento que formam as redes sociais do tipo Facebook, Twitter. Orkut, etc. Nesses sites se comenta de tudo, mas fundamentalmente do que é trivial e de muita fofoca.

Aliás, o próprio êxito estrondoso desses sites é devido ao fato de que eles dão vazão a essa necessidade incontida nas pessoas de se comunicar. E como se isso não bastasse, ainda tem o You Tube para, além de falar, também permitir às pessoas mostrar as fofocas em cenas de vídeo.

Antigamente, quando não havia Internet, as pessoas também fofocavam, mas as fofocas eram restritas aos salões de beleza, aos amigos próximos, aos colegas de trabalho, aos parentes, etc., ou seja, o alcance da fofoca era muito limitado. Por exemplo, as fofocas sobre a rainha Elizabeth I ficaram limitadas aos ingleses. Até por questões idiomáticas elas não tinham como atravessar as fronteiras da Inglaterra. Mas, se fosse aos dias de hoje… pobre da rainha…

Juntando a esse fantástico sistema mundial de amplificação em tempo real das notícias através da mídia tradicional e da digital, ao fato de que hoje os nossos passos estarem sendo vigiados digitalmente 24 horas por dia, temos aí os dois ingredientes básicos para a repercussão de qualquer deslize em questão de horas: gravação do fato e facilidade de divulgação a custo zero.

Somos vigiados por milhões de câmeras de vídeo fixas espalhadas pelas ruas; afixadas na parte externa das casas; nos estabelecimentos comerciais; pelas câmaras fotográficas e de vídeo móveis dos celulares; pelos sistemas de GPS em nossos carros e nos celulares; e por toda a nossa navegação na Internet que é rastreada por programas inteligentes que sabem exatamente o que buscamos e aonde vamos.

A nossa privacidade acabou neste século XXI. É muito difícil fazer algo às escondidas. Estamos expostos. E, se fizermos ou dissermos algo indevido, imediatamente alguém poderá nos flagrar, gravar e nos expor à execração pública.

Veja o vídeo que um paciente num hospital fez com o seu celular no link da Globo a seguir e constate o estrago que o comportamento irresponsável desse médico, aliado ao desejo de fofocar do paciente, causaram para a imagem do hospital (link: médico fumando no hospital).

Por outro lado, nunca seria demais lembrar que a imprensa ganha dinheiro com a divulgação de notícias cabeludas e é por isso que ela amplia os fatos que podem gerar grande repercussão até não poder mais. Lembra-se do casal Nardoni? A novela não tinha fim…

Como esquecer da falsa grávida de quadrigêmeos e do navio Costa Concórdia. E, enquanto houver público interessado nessas notícias, a imprensa estará lá entrevistando qualquer um só para não deixar a notícia morrer. Quando ninguém mais se interessar pelos temas, o navio que afunde e o barrigão da grávida que se dane.

Diante dessa realidade, ou sua empresa treina, capacita, conscientiza e motiva os empregados da linha de frente, ou o melhor seria tirar a logomarca dos seus uniformes e veículos, pois é bem provável que essas mídias estejam fazendo mais propaganda negativa do que positiva, e de sobra, sua empresa ainda está correndo o risco de ter sua imagem abalada indelével e seriamente se um deles cometer algum deslize que seja gravado e divulgado.